Corrupção na Olympus em Coimbra

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Pedro
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Corrupção na Olympus em Coimbra

Mensagem por Pedro »

Director da Olympus em Portugal denunciou corrupção e foi demitido

Gernut Bonack era director da fábrica da multinacional japonesa em Coimbra. Acusa o grupo de despedimento ilícito e pede uma indemnização de 5,2 milhões de euros

Há 32 anos na Olympus, onde subiu de mecânico a director, Gernut Bonack foi subitamente despedido da multinacional japonesa, envolvida actualmente num escândalo financeiro.

Estava a gerir a fábrica de reparações em Coimbra, desde 2002. Alguns meses antes de ser dispensado, denunciou um caso de corrupção que envolvia os seus superiores hierárquicos. Pede agora uma indemnização de 5,2 milhões de euros em tribunal.

No início de Junho do ano passado, Bonack deslocou-se a Hamburgo, na Alemanha, para assistir ao fórum anual de directores europeus - um evento convocado todos os anos pela Olympus.

Tinha na agenda uma reunião privada, a 9 de Junho, para "discutir a situação dos trabalhadores" da fábrica portuguesa, lê-se na carta que lhe foi endereçada.

Quando entrou na sala, ainda levava o portátil ligado, pronto para fazer uma apresentação sobre o desempenho da unidade fabril, onde trabalham 100 pessoas.

Mas logo se apercebeu que não era esse o propósito. De acordo com o que relatou ao PÚBLICO, e que consta da acusação num processo que corre no Tribunal do Trabalho de Coimbra, foi-lhe imediatamente comunicado que queriam despedi-lo.

Aliás, a decisão era de tal forma vinculativa que, naquele preciso momento, já o director de operações, Pierre Lacroix, estava a caminho de Portugal para comunicar aos funcionários a saída de Bonack.

No processo, que tinha julgamento agendado para 7 de Novembro e foi adiado, consta a carta enviada aos trabalhadores, com data de 9 de Junho.

"Vimos por este meio comunicar que, face ao clima económico de grande dificuldade e à grande pressão sentida na estrutura de custos da empresa, foi entendido redesenhar e reduzir a estrutura de gestão. Assim, o sr. Gernut Bonack irá abandonar a sua posição de director-geral", refere o documento.

Ontem, contactada pelo PÚBLICO, a Olympus acrescentou, numa resposta enviada por e-mail, que "nos seis meses que antecederam [a decisão], as receitas no segmento das máquinas fotográficas caíram quase 50%. Por isso, houve necessidade de fazer cortes em todas as áreas". Não explicou, no entanto, se a fábrica portuguesa estava ou a não registar uma quebra de desempenho.

Bonack critica os argumentos, afirmando que a multinacional tinha "decidido, pouco tempo antes, dar aumentos aos restantes responsáveis da fábrica de Coimbra e ainda um carro de serviço". Além disso, a sua avaliação de desempenho, nos últimos anos, ultrapassava os 100%, verifica-se em documentos da empresa.

Demitido e substituído

Na missiva enviada a 9 de Junho aos trabalhadores, Lacroix explicava que o gestor alemão já tinha substituto. Pedro Lázaro, braço-direito de Bonack e padrinho do seu filho mais novo, aceitou o lugar, como se constata na carta.

"O director financeiro local - Pedro Lázaro - é promovido a general manager [director-geral] e assumirá a posição de coordenação das actividades a nível local", lê-se, apesar de a Olympus e o próprio gestor português o negarem.

Contactado pelo PÚBLICO, Lázaro remeteu mais questões para o departamento de comunicação da multinacional, pela qual foi recentemente promovido. Hoje, é "responsável pelo departamento de operações" na Europa, explicou, antes de desligar.

Enquanto, em Portugal, era comunicada a saída de Bonack, o gestor dirigia-se ao aeroporto de Hamburgo para regressar a Lisboa e comunicar à mulher e aos dois filhos o despedimento. Nesse percurso, começou a receber alertas no smartphone com um aviso de formatação do sistema.

"Fui sempre carregando no botão "não" para parar o processo, mas a mensagem continuava a aparecer de dez em dez segundos. Suava por todo o lado, até que cedi. Fiquei sem os documentos que tinha guardado, profissionais e pessoais", contou.

Foi nesta altura que começou a juntar as peças do que crê ser a razão do seu despedimento. Alguns meses antes da reunião em Hamburgo, o antigo quadro da Olympus, que continua a viver em Coimbra, viu-se envolvido num conflito com um superior hierárquico, que encontra paralelo no que aconteceu, em Outubro, com o presidente da empresa, Michael Woodford - afastado subitamente depois de denúncias de corrupção.

Um "filme de James Bond"

Tudo começou em 2006, com uma inundação que causou prejuízos de um milhão de euros à fábrica de Coimbra. Para precaver novo incidente, Bo1nack pediu autorização para proteger as instalações e, sem que alegadamente fossem pedidos mais orçamentos, o seu superior, Stefan Kaufman (actualmente director-geral dos assuntos corporativos na Europa), escolheu um arquitecto alemão, que pedia 560 mil euros para realizar a obra - 10% ser-lhe-iam pagos directamente.

Bonack ficou surpreendido com a decisão, que "contrariava a política da Olympus, que estabelece que se deve pedir pelo menos dois ou três orçamentos", afirmou.

Ainda assim, a obra prosseguiu, até ao momento em que foram detectadas deficiências. Nomeadamente, no portão contra inundações que nunca funcionou correctamente e que Bonack verificou que não cumpria as normas de segurança da lei portuguesa, alega.

Apesar destes episódios, a Olympus pagou o montante contratado e ainda os encargos extraordinários que resultaram dos problemas identificados.

Pressionado pelo gestor alemão, o seu superior hierárquico (que se envolveu directamente na execução da obra) aceitou avançar para tribunal, mas, em vez de processar o arquitecto, deu ordens para se acusar o fabricante.

Indignado, Bonack desabafou com o advogado da Olympus. "Disse-lhe que não percebia por que não processávamos o arquitecto e ele respondeu-me que tinha recebido ordens para não se avançar contra ele", relatou.

Mais tarde, descobriu que "o arquitecto já tinha trabalhado para Kaufman, na sua própria casa". Hoje, acredita que foi esse desabafo que levou à sua demissão. "Rapidamente devem ter percebido que sabia o que se passava."

Confrontada pelo PÚBLICO, a Olympus afirmou que, na sequência destas denúncias, foi "aberta uma auditoria interna", mas chegou-se à conclusão de que "não havia evidências de má conduta no que diz respeito à remuneração do arquitecto ou a qualquer outro contrato". Bonack também apresentou queixa formal no Staatanwaltschaft (Ministério Público alemão), que foi arquivada.

Em Portugal, Bonack, que tem como advogado António Garcia Pereira, pede uma indemnização de 5,2 milhões de euros pelos anos de serviço e pelo facto de a mulher ter abandonado o emprego na Alemanha (onde auferia 50 mil euros por ano) e de ter sido privado das expectativas profissionais (e remuneratórias), num caso que diz ser um "filme de James Bond".

Porém, a Olympus argumenta que o gestor tinha meramente um contrato de gerente e, por isso, ofereceu-se para lhe pagar uma compensação muito inferior ao que a lei prevê para um trabalhador por conta de outrem, com 32 anos de casa. Bonack acredita que vai vencer a acção, que não deverá ter um desfecho antes de 2012.

Fonte: Público
A notícia é algo longa, mas resume-se facilmente no seguinte:
- houve uma inundação na fábrica de Coimbra em 2006;
- o director decidiu realizar obras para prevenir situações semelhantes no futuro;
- o superior dele contratou directamente um arquitecto amigo sem pedir orçamentos adicionais (como é política da empresa);
- as obras tinham várias deficiências, que foram detectadas, e o director pediu ao departamento legal para processar o arquitecto;
- o departamento legal recusou e, mais tarde, este director acabou despedido de surpresa, sendo substituído quando se encontrava fora do país.

É uma situação algo "feia" para a empresa e para os seus accionistas. Infelizmente há coisas bem piores a acontecer em organismos públicos, como vimos recentemente no caso do Metro Mondego... mas a imagem da empresa sai prejudicada na mesma.

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gunky
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Re: Corrupção na Olympus em Coimbra

Mensagem por gunky »

Neste momento essa situaçao dentro da olympus e uma ninharia. Muito mais grave e isto.

http://veja.abril.com.br/noticia/econom ... -operacoes

http://aeiou.expresso.pt/olympus-admite ... as=f686104

Embora o despedimento deste senhor tenha sido problematico na altura (ja saiu de la ha meses) acho q neste momento esta-se a aproveitar da situaçao a nivel internacional para proveito mediatico

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Pedro
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Re: Corrupção na Olympus em Coimbra

Mensagem por Pedro »

Esta situação específica chamou-me a atenção por se ter passado em Coimbra. Não sabia que a situação da empresa estava assim tão má neste aspecto...